Pois em altura de férias, e quando não há tempo para férias propriamente ditas, nada como uma escapadinha para perto de casa. Nada como visitar sítios que julgamos conhecer bem, de tantas vezes que lá passamos, lançando um novo olhar com tempo e espírito de descoberta.
Sendo assim, toca de procurar hotel para a pernoita algures por Leiria/Nazaré, para o caso de apetecer praia ou campo e olha, que giro, este é bem barato, e fica a meio caminho das duas! Pois seja, amigo “booking”, ora faz favor de reservar aí o Santa Maria em Alcobaça!
Dia um:
Como o dia estava quente, nada como uma visita às grutas, já que ao menos lá sempre está frescote. Ora deixa cá apontar o GPS para os Alvados, e siga! (Para quem não esteja a situar estas grutas muito bem, ficam entre Mira de Aire e Porto de Mós) Eis-nos lá chegados, pouco passavam das cinco da tarde. Três ou quatro carros parados em frente ao edifício, e vamos lá comprar os bilhetes. Já que as grutas de Santo António também ficam perto, compra-se o pacote todo! Ou então não, porque não dá tempo de ver as duas no mesmo dia, porque a próxima visita é às 17:40… Enquanto não chegou a hora da visita, vá de aviar um corneto para amenizar os mais de 30 graus e dar uma vista de olhos na imprensa regional.
Chegado o momento de entrar no buraco, não pude deixar de me lembrar das aventuras do Tom Sawyer e das suas tropelias com Huck nas minas a fugir de Joe, o Índio. Este pensamento depressa se desvaneceu assim que o fresquinho se apoderou de corpo e mente, e se começou a visita propriamente dita. Estas grutas, apesar de não serem muito extensas ou com enormes cavernas, são possuidoras de bastantes e diversificadas formações geológicas, que puxam constantemente pela imaginação do visitante, e é sempre agradável a visita, mesmo quando já se haviam visitado anteriormente, como era o caso. Quando esta beleza natural é acompanhada de uma boa explicação e de uma iluminação condizente, o resultado é bastante satisfatório. Apenas uma palavra de tristeza pela pouca promoção que esta gruta parece ter, o que leva a um certo abandalhamento do espaço envolvente. Nota especial para a magnífica vista que se tem para as serras de Aire e Candeeiros!
E como com esta brincadeira eram já seis e pouco, mais do que hora do lanche, houve que dar o destino certo ao farnel, que é como quem diz, para a barriguinha, enquanto se passava por Porto de Mós, e o seu pitoresco castelo, que infelizmente já se encontrava fechado. Uma local a visitar no futuro, certamente.
Com o aproximar da hora do recolher, houve que procurar o “famoso” hotel Santa Maria, em Alcobaça. Va a ver-se e é mesmo ao lado do Mosteiro. Sorte sorte, o quarto tem uma vista magnífica para o dito! Tem vista mas não tem champô e o mini-bar está vazio… Pormenores que fizeram ficar com a pulga atrás da orelha, mas as surpresas ficaram só mesmo por aí. O Mosteiro de Alcobaça merece também a visita, mas essa já tinha sido feita anteriormente. A imponência da Igreja e os túmulos de Pedro e Inês-a-castelhana no ambiente fresco da pedra lembram-nos a célebre história, e apelam à Portugalidade interior. Adiante: Como o lanche tinha sido tardio e reforçado, o jantar (já tardio) ficou-se por um snack no D. Pedro – um estabelecimento comercial sobranceiro ao Mosteiro, com us bonitos painéis de azulejo e um atendimento bastante simpático.
Dia dois:
Levantar cedo, e investigar o pequeno almoço do hotel, já que havia alguns receios, dada a avareza de champô no quarto. Afinal de contas o dito repasto era bem bom, com variedade q.b. Mais uma nota positiva para a simpatia das funcionárias, sempre atenciosas.
Pago o hotel, vamos é rumar a Leiria já que andei tantos anos a passar lá quase semanalmente e nunca visitei o castelo. Já que a Batalha fica em caminho, há que parar para recordar a malha nos “hermanos” e admirar as capelas imperfeitas. Há já muitos anos que não visitava a Batalha, e se por um lado fiquei bastante contente com as ditas, já os claustros pareceram demasiado vazios e injustificativos de que se cobre bilhete para lá entrar. Não houve hipótese de visitar a Igreja, já que decorria missa. Fica para a próxima, já que a imponência do gótico promete. Assinale-se também o monumento ao soldado desconhecido, que nos lembra do horror da guerra, e faz levantar a dúvida: existe algum destes monumentos para a Guerra Colonial?
O calor aperta, e Leiria é já ali. O castelo aparenta boa conservação, e o estacionamento foi fácil. O pior estava para vir: já passa do meio dia, portanto não há visitas à torre, só ao Castelo. Paga-se um euro e pouco, e isso dá-nos direito a deambular à vontade pelas ruinas mal assinaladas e razoavelmente mal conservadas. Salva-se o Paço, onde se pode ir à varanda e descansar do calor, mesmo que esteja invadido por uma seita de estrangeiros que por lá abancou cada um com a sua velinha. Convém lembrar que este castelo foi mais um dos que sofreram restauros “estilo Estado-Novo”, em que o rigor histórico não terá sido o principal alvo, mas sempre é melhor ter um castelo para visitar, ainda que diferente do original, do que ter coisa nenhuma.
Almoço feito, havia que decidir o que fazer de tarde: mais uma visita às grutas, agora às de Mira de Aire, que são provavelmente as mais afamadas. Lá chegados, o contraste com as dos Alvados não poderia ser maior: montes de gente, e uma gruta com grandes salas e menor riqueza geológica, e um guia habituado a fazer visitas “para os saloios”. Vale a visita pela imponência e dimensão, mas aconselha-se a procura de uma época mais sossegada, especialmente fora dos momentos dos “13 de qualquer coisa”.